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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

PARA GULLAR, DILMA PRONUNCIA "DISCURSO DE CRIOULO DOIDO".

Por Celso Lungaretti - Jornalista e Escritor

Gullar: o PT hoje não passa de um partido populista.
O poeta neoconcretista Ferreira Gullar, com a sabedoria dos seus 84 anos, acaba de fazer uma análise quase perfeita da ascensão e queda do PT. Concordo com praticamente tudo e a reproduzo abaixo porque deve ser conhecida e discutida por todos que ainda não desistiram do bom combate.

A única ressalva que faço é a seguinte: ele acerta ao constatar que, "em nenhum dos países onde o comunismo chegou ao poder, o governo foi exercido por trabalhadores", mas daí não se pode inferir automaticamente que uma sociedade igualitária "na prática, tornou-se inviável".

Eu diria que foi o socialismo num só país que se demonstrou inviável, mas continuo acreditando que as coisas serão bem diferentes se uma onda revolucionária varrer o mundo, como acreditavam os marxistas antes do brutal esmagamento da Comuna de Paris, em 1871. 

Mesmo um pouco abalada, a esperança na revolução internacional ainda era forte às vésperas da revolução de 1917, quando a cúpula bolchevique decidiu que, embora a Rússia não estivesse preparada para o socialismo, a tomada de poder se justificava para servir como uma espécie de estopim da revolução européia, à qual se seguiria a mundial.

Sob Stalin, apropriadamente apelidado por Trotsky de "coveiro da revolução", o movimento revolucionário tomou o desastroso atalho de considerar possível e desejável a eclosão de revoluções localizadas. E elas todas, ou foram esmagadas, ou se desvirtuaram.
Stalin, o coveiro da revolução.

Então, sustento ser inexato que a teoria original de Marx e Engels, na prática, tenha se mostrado inviável; apenas deixou de ser testada em escala ampla e com o processo sendo encabeçado pelos países mais industrializados, como ambos prescreveram. Talvez, nas circunstâncias bem diferentes do atual século, ainda o venham a ser. É a esperança que me impregna e que me move. [Mais sobre este assunto aqui.]

Fechado este parêntesis, vamos às lúcidas considerações do Gullar.
"...diferentemente dos demais partidos, o partido revolucionário promete mudar radicalmente a sociedade, alijando do poder os exploradores do povo, isto é, os capitalistas. 
Noutras palavras, o partido de esquerda é essencialmente ideológico, defende a criação de uma nova sociedade, dirigida não pelos patrões e, sim, pelos trabalhadores. Teoria essa que, na prática, mostrou-se inviável, uma vez que, em nenhum dos países onde o comunismo chegou ao poder, o governo foi exercido por trabalhadores.
Esses partidos não existem mais. Os que existem, como o PT, por exemplo, são na verdade partidos populistas, que se apresentam como defensores dos pobres, mas se aliam a setores empresariais, aos quais fazem concessões para se manter no poder.
Porque não podem mostrar-se, diante dos seus eleitores, como realmente são; fazem o jogo dos interesses empresariais, mas discursam como adversários deles.
E, assim, ganham os dois: os capitalistas, que nada têm a temer –consequentemente ganham mais–, e os populistas, que manipulam o descontentamento dos pobres com programas assistencialistas.
Esse foi o discurso do PT, que o manteve desde sempre, enquanto foi possível. Agora, no caso de Dilma Rousseff, a situação encrencou, porque a política governamental adotada, após anos e anos, terminou por levar a economia do país a esta situação crítica, o que a obrigou a chamar alguém para evitar que o barco afunde.
Mas como dizer essa verdade ao país se, até outro dia, durante a campanha eleitoral, afirmava o contrário? E, sobretudo, como dizê-la ao eleitorado petista que, por sua vez, não quer ouvir a verdade? Não pode, claro. Daí o estranho discurso que Dilma [na primeira reunião mantida com os inacreditáveis 39 auxiliares, os quais só não devem ser 40 por receio de comparações com um certo conto das Mil e uma noites...] fez a seus ministros e a seus eleitores.
É que ela vai fazer, neste novo mandato, tudo o que disse que não faria. E acusava Aécio Neves de desejar fazer...
Por isso mesmo, como não pode dizer que não o fará, tampouco que o fará, pronunciou um discurso de crioulo doido (*) quando garantiu que a mudança radical que sofrerá a sua política econômica é apenas a continuação natural daquela que fracassou. Por que, então, demitiu Guido Mantega, o responsável por ela?" 
* referência à hilária paródia Samba do crioulo doido, composta por Sérgio Porto em 1968.

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